A VOZ E O GRITO
Em retrospecto
*Por José Carlos Barroso
A voz está associada à fala, na
realização da comunicação verbal, mas o que está a preocupar é o som
penetrante, agudo, voluntariamente emitido com força pela voz humana, chamado
de grito.
Já
não suportamos mais esse estado de coisas criado pela intolerância pela
malvadeza, pela coragem, quando passa a existir o confronto com o que é temível,
ou seja, a discórdia,
a difícil
vida, a
intimidação.
Uma pessoa corajosa é uma pessoa
que, mesmo com amor, faz o que tem a fazer, vai mais além, enfrenta os desafios
com confiança e não se preocupa com o pior. O medo pode ser constante, mas o
impulso o leva adiante, aí vem à ruína na esteira dos absurdos, sufocando a
razão e impondo o homem ao convívio das lutas vãs pela disputa territorial, criando
um cenário de guerra, de desagregação e conflitos.
Temos
notado que a coragem é manifesta de forma impensada por alguém que geralmente
está irado e, sob efeito do álcool ou da droga sendo este o combustível a impulsionar
as atitudes humanas.
Neste
ano passamos o mês de fevereiro ouvindo comentários sobre o carnaval, comentários
esses salpicados de purpurina, repleto de lantejoulas e paetês, decorados de
serpentinas e confetes.
Passamos
ouvindo na maioria das vezes o seguinte: “Carnaval bom era no meu tempo,” “Pura
alegria nos clubes,” “Hoje em dia a rua não é só o palco do carnaval, mas o banheiro
também,” “Será que este ano vão aumentar os banheiros químicos”? “Como será a
nossa segurança, será que estão preocupados como nós,” “Será que este ficará
mais cheio?”
Porém
o que vimos com raras exceções foram dias tranquilos, com talvez a metade dos
foliões de outros anos, com isto pouco empurra, empurra, e disse me disse e, sem
muitos gritos, e quase ninguém expôs as genitálias para contribuir com seus líquidos
excrementícios e assim aumentassem o enjoativo odor fétido de urina passada.
Os
corajosos engarrafados foram poucos e, nada que um empurrão ou uma revista
policial não os acalmasse, e nesses simples embates quem venceu foram os
cavalos da PM, que imponentes impunham sua superioridade com galhardia.
As
bandas e, os sons por outro lado deram o toque nostálgico e saudosista aos
momentos, através das antigas marchinhas e os sambas de enredo de hoje e
outrora. Sons automotivos não tiveram vez nem lugar e, isso foi ótimo, pois o
silencio por muito tempo foi o responsável pelas noites de bom e agradável
sono.
Bem
não sabemos se as medidas tomadas foram importantes, mas denotou-se a ausência dos
excessos e, assim as crianças puderam recuperar os seus espaços, que foram
tomados pelo rei do opróbrio, o coisa ruim, o diacho, que foi expulso pelas fragrâncias
da pureza e da inocência.
Concluindo
se é necessário, ou se é preciso subverter que seja de forma sensata e amena
guardando-se os arroubos, a intolerância, a impaciência, e ainda se é necessário
a alienação, ou seja, a falta de consciência dos problemas políticos e sociais,
pelo afastamento da realidade, mesmo que momentâneo, que seja
assim em clima de amenidades, resgatando o bom e o belo, fazendo do convívio salutar
e da alegria uma constante no interagir.
O
grande antropólogo e fã incondicional de nossa São João Nepomuceno e estudioso
do carnaval, Dr. Roberto da Mata, autor de “Carnaval, malandros e heróis”,
ensaio fundamental para qualquer discussão sobre o tríduo momesco, assim asseverou:
“A alienação é fundamental para toda a sociedade.
Não há cultura que não tenha seu momento de alienação.”
O
fato de se suspender a realidade para brincar é, de fato, uma alienação, mas “Que esse seja apenas o tempo de se usar a voz para
cantar a alegria, e não de se usar o grito para entristecer e aclarar a
dor”. (Jocarlosbarroso)
*José Carlos Barroso
é advogado militando nas áreas
civil, criminal, trabalhista, família, e previdenciária.
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