“.No Brasil, a violência não é uma qualidade
das pessoas más”, mas o fator estruturante da sociedade.”
Ao inicio torna-se apropriado citarmos a
frase abaixo que é atribuída a um dos mais geniais escritores de todos os
tempos, o argentino Jorge Luis Borges (1899-1986), com a qual muitos não
concordam e, aí me incluo, deixando isto estabelecido de forma pública.
“A
democracia é um erro estatístico, porque na democracia decide a maioria e a
maioria é formada de imbecis”.
Contudo, é possível, fazer uma analogia entre
a premissa matemática do silogismo pseudoborgeano (Relativo ou pertencente ao
escritor argentino Jorge Luis Borges - 1899-1986), ou próprio dele, e a relação
entre discurso e violência no mundo que estamos criando e, essa será a temática
a ser desenvolvida a partir de opiniões diversas, e fruto de analises pessoais
e doutrinarias.
Pois bem. Em sentido amplo, estamos vivendo, em uma
sociedade na qual a violência é erroneamente interpretada, na maioria das
vezes, como uma dimensão da vida social, que surge episodicamente e que,
portanto, precisa ser reprimida topicamente, pontualmente e de forma
espetacular, como forma de satisfazer uma pedagogia de exemplaridade.
Esse modo de pensar vigorou entre a
Antiguidade (como exemplo as crucificações promovidas pelos romanos) até o
século XVIII (lembremos das mulheres e homens queimados em praças públicas,
como exemplo, alguns notáveis pelos seus experimentos científicos, ou alguns
pensadores que foram tomados como indignos pela suspeição de que suas idéias e
ideais contrapunham aos pensamentos da época) – a partir daí, como qualquer
pessoa que é conscientemente herdeira das tradições ditas iluministas deve ter
ciência, da idéia de punição-exemplaridade.
Ocorre que prudentemente esse pensamento foi
substituído (nas tradições racionalistas) pela constatação de que os seres
humanos são animais sociais e culturais e, logicamente, seria mais útil para
toda a sociedade, que o indivíduo, que não está adequado às normas socialmente
aceitas, deve ser reeducado e utilizado em benefício da própria sociedade, o
que também quer dizer em benefício de si mesmo.
No entanto ainda há àqueles que, por infeliz
exceção, não estão familiarizados com esta idéia, ou acreditam que ela é uma
invenção acadêmica de países subdesenvolvidos que querem defender bandidos, ou
é coisa “dessa gente de Direitos Humanos”,
Porém é lamentável que ainda surja em tempos
modernos onde sobrepuja a tecnologia, o argumento fácil e finalístico, entre as
interlocuções de que “bandido bom é bandido morto”.
O discurso da violência toma acento nas redes
sociais, principalmente, e tem como conseqüência se descortinar um efeito
cascata que acaba por envolver a todos aqueles aficionados, que desfrutam das
redes sociais, como meio interativo, e até de forma dinâmica, com as diversas
fontes informativas.
Salta-nos aos olhos que a violência é tão
presente que tem se tornado invisível aos olhos da maioria e se manifesta cada
vez mais em discursos nas redes sociais até em forma de clamor público.
“O CLAMOR DAS MASSAS NÃO DEVE EXERCER
INFLUÊNCIAS NOS JULGAMENTOS SOB PENA DE ESTARMOS VIVENCIANDO O COMETIMENTO DAS
INJUSTIÇAS EM MASSA”. (JOCARLOSBARROSO)
Não, não é assim que se pensa, e que se fala muito
menos que se faz, pois todo aquele mesmo que tomado pelas imundices humanas,
deve ter oportunidades de se recompor perante a sociedade e por ela e, para ela
ser reeducado.
Não estamos com isto querendo justificar, por
exemplo, a ação dos “grupos de bairros” – sim preferimos assim nomeá-los, ao
invés de reafirmar as pechas corriqueiras imputadas aos mesmos, como por
exemplo, de gangs, de black bloc (bloco preto) fazendo com que sejam os mesmo
estigmatizados ainda mais como elementos do mal, que convenhamos é um sinal
denegridor infamante.
Porém é sabido e consabido que o problema
social é muito maior do que imaginamos e, que a esse se junta outros tornando a
questão mais complexa do que realmente parece ser. Dizer que esse estado de
coisas, esses enfrentamentos desses grupos tem como origem e pano de fundo o
tráfico de drogas, ou reivindicação de direitos, ou seja, sinal dos tempos é
bem mais fácil, mais cômodo, do que as instituições e, os governos buscarem as
verdadeiras causas desse caos e assim colocarem em pratica as suas políticas
publicas sociais.
O que é inegável mesmo é que esses
enfrentamentos de grupos, expondo as escancaras uma inconteste violência, que
têm trazido dor no seio das famílias, e são elas que estão arcando com as
conseqüências dos sérios problemas, participando de certa forma também como
culpada, na medida em que seus membros são presos e condenados em nome da
exemplaridade, e até mortos pela estupidez.
Certa também é a "omissão do Estado”,
que não se mostra aparelhado de forma adequada a promover uma completa
reformulação dos conceitos sociais, muito menos aparelhados estão para o
enfrentamento dentro da plausibilidade para lidar e resolver o sério problema
da criminalidade, da violência, bem como as questões que lhes são pertinentes
junto aos componentes desses grupos, permitindo pela negligência, que o tempo
seja o senhor das coisas, conseguindo apenas que ele seja sim o senhor das
aberrações nefastas.
Não podemos generalizar como se todos os
casos tivessem como origem o envolvimento no tráfico e, como justificasse tudo,
muito menos demonstrarmos o absurdo da frieza daqueles que dizem: “Morreu?
Também não era coisa boa!” Isso jamais, e ao nosso convencimento esta não é uma
máxima a ser seguida por ser contraria aos princípios cristãos.
Não obstante é evidente que nem todos estão
envolvidos nesses conflitos, assim como evidente também é que os que estão podem
ser recuperados e, não escolhidos para serem sentenciados de forma exemplar e
espetacular, com punições absurdas, que avançam a prudência como se o
acautelamento em prisões fosse a solução para os problemas, vez que as prisões
não passam de masmorras fétidas onde perfilam condenados que se arrastam por
anos por estarem muitas das vezes abandonados a própria sorte.
Condenados, abandonados pelas famílias, pela
sociedade, pelo governo e instituições, e pela própria lei estão a superlotar
as instituições penais. A propósito assevera Cesare Beccaria:
“Parece-me absurdo que as leis, que
são a expressão da vontade pública, que abominam e punem o homicídio, o cometam
elas mesmas e que, para dissuadir o cidadão do assassínio, ordenem um
assassínio público”. Cesare Beccaria
É um erro as interpretações das leis de forma
odiosa, temos sim que prevenir os crimes e usando da prudência, e parafraseando
Beccaria o meio mais seguro, mas ao mesmo tempo mais difícil de tornar os
homens menos inclinados a praticar o mal, é aperfeiçoar a educação.
Beccaria se insurge contra se distribuir
prodigamente a prática de torturas, as penas de morte, as prisões desumanas, o
banimentos, as acusações secretas, as penas infamantes, a confiscação, a
desigualdade entre os castigos se mostrando contra essa tradição jurídica ao
passo que invoca a razão e o sentimento.
Fez-se ele o porta-voz dos protestos da consciência
pública contra os absurdos, contra a desigualdade ante o castigo, a atrocidade
dos suplícios; estabelecendo limites entre a justiça divina e a justiça humana,
entre os pecados e os delitos. "A
grandeza do crime não depende da intenção de quem o comete", escreveu.
Condena o direito de vingança e toma por base
do direito de punir a utilidade social, ressaltando a necessidade da
publicidade e da presteza das penas: "quanto mais pronta for a pena e mais
de perto seguir o delito, tanto mais justa e útil ela será". Declara ainda
a pena de morte inútil e reclama a proporcionalidade das penas aos delitos
("a verdadeira medida dos delitos é o dano causado à sociedade"),
assim como a separação do poder judiciário e do poder legislativo.
Sua posição parece-nos ser prudente, pois a
vingança não encontrou lugar em seu peito e, isto é extremamente correto, pois
assim não se corre risco algum pelos enganos que cometemos vez que a historia
dos homens é um oceano de erros.
Ressalta por fim que o castigo deve ser
inevitável, mas que não é a severidade da pena que traz o temor, mas a certeza
da punição. "A perspectiva de um castigo moderado, mas inevitável, causará
sempre uma impressão mais forte do que o vago temor de um suplício terrível, em
relação ao qual se apresenta alguma esperança de impunidade".
Assim
entendemos que as posturas discursivas violentas só são assumidas, na maioria
das vezes, porque a internet poupa seus emissores desta conta emocional do
constrangimento presencial.
Assim concluímos que a prevenção dos crimes
(leia-se pela educação) é melhor do que a punição, e se a mesma for necessária,
que seja aplicada de forma proporcional ao delito, sem a pecha da vingança,
levando a sociedade como um todo e os poderes constituídos a sopesarem, essa
proposta visto que nos parece ser a mais prudente e a melhor a ser aplicada, de
forma incisiva, exemplar e espetacular. ISSO SIM, É JUSTO, É DIREITO!
*José Carlos Henriques Barroso é advogado nas
áreas Cível
Criminal, Trabalhista, Família e Previdenciária.